domingo, 25 de setembro de 2011

O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras ele chupou displicente, mas percebendo que faltavam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que apesar a idade cronológica, são imaturas. Detesto fazer acareação de desafetos que brigam pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
As pessoas não debatem conteúdos, apenas rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa. Sem cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana; não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade.
Quero caminhar perto de coisas e pessoas de verdade. O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!
MÁRIO DE ANDRADE
(1893-1945)

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beijos

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